quinta-feira, 22 de junho de 2017

A Petrobrás - do soldador ao presidente

por Emanuel Cancella

Pedro Parente instituiu na Petrobrás o “Faça o que eu
mando, mas não faça o que eu faço”!   

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Entrei na Petrobrás, através de concurso, no dia 10/07/74, e me aposentei como técnico de material, 42 anos depois, em 17/05/17. Tenho com a Petrobrás e os petroleiros uma relação de amor e companheirismo. São muitas histórias vividas e assistidas, na empresa, e uma delas torno pública.

Foi no final da década de 70 e início de 80. Um amigo meu de infância me perguntou se havia concurso na Petrobrás para sua área. Liguei para o serviço de pessoal e me informaram que estava em aberto um concurso para soldador. Retornei para meu amigo, que correu, se inscreveu e acabou passando no concurso.

Na Petrobrás, existe um ditado que diz que, na empresa, é difícil de entrar e de  sair. Para entrar na empresa, além do concurso, na área específica, existe também, para todos, uma investigação social.

E aí retorno para o meu amigo soldador, que não vou divulgar o nome, pois não me foi autorizado. Mas sabia tudo da vida dele, pois fomos criados juntos na comunidade pobre de Irajá, no Rio de Janeiro. O pai dele morreu do coração, em 1960, no Maracanã, quando o América, seu time, foi campeão.

Fomos padeiros juntos, nas ruas do bairro e no entorno, dormimos muitas vezes em cima do forno à lenha da Padaria. Hoje o forno à lenha é raro.  Eu vendia pão para ajudar meu pai a criar meus 9 irmãos e o soldador, órfão,  trabalhava para o próprio sustento e de dois irmãos.

Fui informado, nos bastidores, que o meu amigo soldador estava sendo reprovado na Petrobrás, na investigação social.

Entrei na Petrobrás na refinaria de Paulínia e passei grande parte da minha vida laboral no EDISE, centro do Rio de Janeiro, sede da Empresa, onde cheguei em 1976. No Edise, fica a Segurança Patrimonial, antiga DIVIN (Divisão de Vigilância Interna). E lá fui eu à DIVIN saber o motivo da reprovação do meu amigo soldador.

Naquela época eu já era sindicalista e nunca tinha entrado na DIVIN. Então cheguei ao setor e nunca vou esquecer os colegas ali lotados que escondiam a cara para não serem reconhecidos, como se estivessem fazendo alguma coisa errada.
Fui ao encontro de um militar que estava prestando serviço na Petrobrás. Na época da ditadura militar, a Petrobrás era infestada de militares, principalmente do exército e da marinha. E, verdade seja dita, fiz muitos amigos entre esses milicos, apesar de muitos deles terem aversão a qualquer sindicalista.

Mas voltando, de novo, ao soldador. Perguntei ao representante da DIVIN qual o crime que o meu amigo soldador tinha cometido para ser barrado na Petrobrás. Depois de alguma resistência, o militar disse que ele tinha sido preso em Madureira, subúrbio do Rio, junto com outro homem. Então perguntei que crime ele cometeu. Vadiagem, disse.

Para quem não sabe, vadiagem era crime nos anos de chumbo. Homem ou mulher que andasse pelas ruas sem a CPTS, também conhecida como carteira de trabalho, sem estar assinada por um empregador, era sujeito à prisão.

Ponderei junto ao representante da empresa que, mesmo sem a carteira assinada, meu amigo soldador ralava, e muito. Imagina se algum padeiro, desses que a gente ainda hoje vê passar nas ruas, principalmente das comunidades, vai ter carteira profissional assinada?
Meus argumentos sensibilizaram o militar e o soldador entrou na Petrobrás, aposentando-se bem antes de mim, por ter direito à aposentadoria especial, já que era lotado na plataforma de Campos.

Faço esse relato para cobrar da Segurança Patrimonial da Petrobrás a investigação social do atual presidente da Empresa Pedro Parente, que é réu, desde 2001, em ação movida por petroleiro que, segundo denúncia, deu prejuízo de R$ 5 BI a Petrobrás (3), na ocasião. 

Diga-se de passagem, não consta nos manuais da empresa, que é pública, diferença de 
tratamento, quanto à probidade, entre o cargo de presidente e de soldador.

E mesmo com esse antecedente, Parente volta e continua a praticar o mesmo crime, vendendo ativos da Petrobras sem licitação. Vende para quem ele quer e pelo valor que ele mesmo estipula. E os negócios de Parente envolvem bens valiosíssimos e estratégicos como área do pré-sal e petroquímicas (1,2).

E na parceria com a gringalhada, Parente agora faz um acordo na justiça estadunidense, prejudicial à Petrobrás, no valor de quase US$ 500 milhões (4). Parente, nesse acordo, de forma dolosa, corrobora com a tese estapafúrdia dos tribunais americanos que alegam que a queda do valor das ações da Petrobrás foi por conta da corrupção. Como, se as ações caíram no mundo todo, não só da Petrobrás?

Nessas ações ja que são 27, a Petrobrás está totalmente sem defesa, pois conta com um presidente entreguista desses e uma justiça como a Lava Jato que sai em auxílio dos acusadores, já que convocou os procuradores americanos para investigar a Petrobrás e também mandou os maiores corruptos, condenados da empresa, para ajudar como testemunhas a favor dos ianques (5,6).
  
É no auge do cinismo, a gestão de Pedro Parente, na Petrobrás, ainda obriga os petroleiros a assinar um código de Ética e participar de um curso de combate à corrupção, que Parente também deveria frequentar mas passa longe.
Pedro Parente instituiu na Petrobrás o “Faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço”!   



Rio de Janeiro, 22 de junho de 2017.

 Autor: Emanuel Cancella, OAB/RJ 75.300, ex-presidente do Sindipetro-RJ, fundador e ex diretor do Comando Nacional dos Petroleiros, da FUP e fundador e coordenador da FNP , ex-diretor Sindical e Nacional do Dieese,  sendo também autor do livro “A Outra Face de Sérgio Moro”

OBS.: Artigo enviado para possível publicação para o Globo, JB, o Dia, Folha, Estadão, Veja, Época entre outros órgãos de comunicação.

    (Esse relato  pode ser reproduzido livremente)

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